A Crise Mundial (Outubro de 2011)
A crise mundial parece descolar-se dos EUA e se instalar exclusivamente na Europa. Não que os EUA tenham resolvido seus problemas, mas sim porque a pujança de sua economia faz uso de uma autonomia que os países da Europa não tem e, assim, seus grandes problemas parecem ir se tornando menos interessantes para a Imprensa mundial. E a confirmação da boa saúde econômica da China envia sinais mais fortes à Economia Americana do que à Européia.
Na primeira quinzena de outubro nada aconteceu de novo a não ser o compromisso oficioso de que uma solução para a Europa teria que ser apresentada em tal ou qual data, e que seria muito ruim para o mundo se nada viesse a ser articulado até a próxima reunião do Grupo dos 20, no início de novembro.
A crise política parecia tomar o lugar da crise econômica: o mundo presta atenção pela primeira vez que há uma União Européia e uma EUROZONA. A primeira com 27 países, e a segunda, dentro da primeira, com 17, que são aqueles países que adotaram o Euro como moeda. O presidente do Conselho Europeu, para tentar mais uma vez resolver a crise, convoca uma reunião com os 17 da EUROZONA, mas o grupo dos 27, na voz da Inglaterra e da Suécia, não aceita ficar fora desta reunião. Este não era o único problema: havia ainda o impasse entre França e Alemanha a respeito do papel que o Banco Central Europeu (BCE) terá no plano de resgate dos países da Europa. Para os franceses, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) deve atuar como um banco, oferecendo créditos através de financiamentos do BCE, com o quê não concordou a Alemanha, veementemente: “este não é o papel do BCE!”. Do lado da Alemanha ficaram apenas a Holanda e a Finlândia, além do próprio BCE. E a França tendo a seu lado quase todos os demais países, preocupados com o destino da EUROZONA.
Surpreendentemente, no entanto, e para felicidade geral, Sarkozy reconhece que sem o apoio de todos não será possível chegar à uma solução e desiste da idéia de usar os créditos do BCE para resolver a questão européia. Os líderes europeus, então, sob grande pressão mundial, unem-se em torno da proposta alemã em busca de uma saída sem usar o BCE. Endossaram uma proposta de recapitalizar os bancos em face das perdas com os títulos gregos – os bancos teriam que dar um substancial desconto na dívida grega – e buscam um aperfeiçoamento da governança da EUROZONA. O EFSF, por seu turno, teria que contar com mais recursos para evitar o contágio em outros países. Leia-se Itália e Espanha.
Finalmente, no dia 27 de outubro de 2011, saiu o Acordo, explicitamente se referindo aos problemas da Grécia, Itália e Espanha. Os bancos tiveram que entrar com sua parte e deram um desconto de 50% na dívida da Grécia, equivalente a 100 bilhões de euros; os países da zona do euro e o FMI darão os outros 100 bilhões, complementando assim o valor total aproximado da dívida grega; O EFSF terá sua atual dotação, de 440 bilhões, aumentada para cerca de 1 trilhão de euros, com o objetivo de ajudar principalmente as economias da Itália e Espanha; e os bancos europeus, de um modo geral, terão que levantar fundos de 106 bilhões de euros para lhes dar mais estabilidade em face de novos calotes.
Mesmo com várias coisas a resolver – por exemplo, como arranjar aquele 1 trilhão para o EFSF – o mundo inteiro comemorou o acordo com muita esperança. O próximo passo, em novembro, será dado quando em Cannes se reunir o G-20, logo nos primeiros dias do mês.
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