A ECONOMIA EM 2015
(fevereiro 2016)
O ano de 2015 foi marcado pela influência política sobre a administração econômica. É uma continuação de 2014, mas com aprofundamento maior desta questão: sem apoio nas duas casas do Congresso e a Economia Internacional não podendo ajudar, o País encontrou enorme dificuldade para o crescimento, ficando evidenciado que o modelo baseado no consumo já teria se esgotado muito antes, quando então passaram a secar as fontes que o alimentaram: o crédito fácil, a valorização do Salário Mínimo, o aumento do emprego e do salário real, as políticas de transferência de renda e o próprio ritmo do comércio exterior sustentaram cada vez menos as mesmas taxas de antes, tendo apenas ganhos marginais, insuficientes para promover a alavancagem do PIB. Em 2010 o País atingiu o pico deste ciclo e seria preciso se reinventar para prosseguir com o mesmo ritmo.
O índice de confiança da Indústria na Economia ficou longe dos 100 pontos que costumava alcançar até 2013 nas pesquisas da Revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas: a insegurança do Empresariado diante de medidas pouco ortodoxas tomadas pelo Governo, ainda em 2014, nas áreas de energia, isenção fiscal, promoção de financiamentos pelo BNDES e ausência de concessões na infraestrutura, não cessa de crescer, aproximando-se de apenas 60 pontos em 2015.
O que marcou a Economia em 2015, além deste desentrosamento com o Empresariado, foi o esforço do Governo para fazer o ajuste fiscal que se tornou necessário em face das despesas excessivas de 2014. Este esforço, independente de ter sido bem-sucedido, ao cortar despesas, acabou inibindo o crescimento, que já estava difícil antes.
Os números de 2015 podem ser observados nas tabelas das páginas seguintes, onde poderão ser comparados com anos anteriores. É o quinto ano seguido de dificuldade para o crescimento e 2016 ainda é uma incógnita, embora neste ano possam começar a aparecer os frutos positivos do esforço fiscal iniciado em 2015. Para um país como o Brasil continuar crescendo, é preciso construir-lhe bases sólidas. Isto pode demorar dezenas de anos e por este motivo os governos não se sentem estimulados a realizá-las. A curto prazo não é animadora a perspectiva de obter taxas elevadas no crescimento do Produto Interno Bruto, pois nem mesmo as soluções que estão a nossa mão, para nos facilitar a vida, somos capazes de tomá-las…
Nas páginas seguintes podemos ver as tabelas com a evolução dos principais dados econômicos do País nos últimos anos.
1-RELAÇÕES COM O EXTERIOR
As relações com o Exterior não são um problema para o Brasil, mas deixaram de ser uma solução. O desempenho da Economia Brasileira no período em foco é marcado pela grande queda do comércio internacional, ainda em decorrência da crise internacional de 2008/2009. Apenas os EUA mantiveram seu nível de comércio com o Brasil, e a recuperação da Europa e de nossos vizinhos da América Latina e Caribe parece demorada. E ainda houve a desaceleração da Economia Chinesa. O preço dos produtos comercializados passou a ser desfavorável ao Brasil, com nossos produtos de exportação perdendo valor e os de importação ganhando. A única exceção foi o petróleo, cuja queda de preço ajudou muito o resultado da Balança Comercial.
Mas os problemas internos também foram grandes e acabaram por acentuar as dificuldades: política cambial desfavorável, incerteza política, infraestrutura precária, baixo investimento, juros altos… O diagnóstico é antigo e bastante conhecido. Estes problemas aumentaram em perda de competitividade na Indústria, e não há sinais de recuperação.
As reservas cambiais vem se mantendo no nível da dívida externa e o grande dado favorável é a manutenção do Investimento Direto Externo, sempre em torno de 60 bilhões de dólares os últimos anos.
1-RELAÇÕES COM O EXTERIOR |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015* |
1.1 Exportações (em bi US$) |
201,9 |
256 |
242,6 |
242,0 |
225,1 |
191,1 |
1.2 Importações (em bi US$) |
181,8 |
226,2 |
223,2 |
239,7 |
229,1 |
171,4 |
1.3 Saldo da balança comercial (em bi US$) |
20,1 |
29,8 |
19,4 |
2,3 |
(4,0) |
19,7 |
1.4 Saldo da balança de transações correntes (em bi US$) |
-47,3 |
-52,5 |
-54,2 |
-81,1 |
-91,8 |
-61,5 |
1.5 Investimento estrangeiro |
48,5 |
67 |
65,3 |
64,0 |
62,5 |
61.6 |
1.6 Dívida externa (em bi US$) |
256,8 |
298 |
313 |
312 |
352,7 |
340,6 |
1.7 Reservas internacionais (em bi US$) |
288,6 |
352 |
379 |
376,0 |
374,0 |
356,5 |
1.8 Dólar médio comercial de venda (em US$) |
1,76 |
1,61 |
1,95 |
2,16 |
2,35 |
3,34 |
2-DADOS DE PRODUÇÃO
Em 2015, a Indústria Brasileira acentuou a queda que sofreu em 2014, com perdas significativas de produtividade Esta baixa produtividade da Indústria se acentuou em face do custo Brasil, especialmente no que se refere à infraestrutura, custo da mão-de-obra e concorrência desleal de produtos importados, ou de produtos concorrentes no mercado internacional. O Governo teria tentado influenciar o desempenho da Indústria, segmentando benefícios através de isenção fiscal, desoneração da folha de pagamentos e redução no custo da energia, além de financiamentos favorecidos pelo BNDES. Esta ação, no entanto, acabou por provocar uma certa insegurança no empresariado, alimentada pelo discurso da oposição e da Imprensa. Foi grande a queda na Indústria automobilística e a Siderurgia continuou a sofrer concorrência de produtos importados, principalmente da China.
2-Dados de produção |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015* |
2.1 Indústria de transformação (2012=100) |
102,16 |
102,46 |
100,00 |
102,81 |
98,43 |
89,4 |
2.2 Automóveis (mil unid) |
2.924 |
2.629 |
2.765 |
2.954 |
2.504 |
2.123 |
2.3 Siderurgia (em mil ton) |
89.394 |
87.757 |
87.178 |
86.732 |
85.656 |
83.677 |
2.4 Produção de petróleo (em mi bep) |
776,3 |
795,4 |
780,9 |
764,6 |
851,8 |
916,0 |
2.5 Bens de capital (2012=100) |
107,23 |
112,59 |
98,09 |
112,20 |
101,53 |
80,26 |
2.6 Consumo de energia elétrica (em GWH) |
415,6 |
433,0 |
448,1 |
463,7 |
473,9 |
466,1 |
2.7 Safra de grãos (em mi ton) |
149,3 |
162,8 |
166,2 |
188,7 |
193,4 |
209,5 |
2.8 Área plantada (em mi hect) |
47,4 |
49,9 |
50,9 |
53,6 |
57,0 |
58,5 |
Para a Agricultura a Confederação Nacional da Agricultura informa que, já em 2014, o Brasil conquistou seu lugar na lista dos dez maiores produtores e exportadores mundiais de grãos e carnes. O País investe cada vez mais em tecnologia e consegue produzir mais, melhor e em menor espaço de terra. O reflexo deste sucesso no PIB é reduzido porque o Setor Agropecuário corresponde a cerca de 6% da Economia.
3–MERCADO DE TRABALHO
O mercado de trabalho brasileiro, face à composição etária de sua população, demorou a mostrar os sinais da crise, com o desemprego se acentuando apenas no final do ano, a uma taxa de 8,6%.
Houve 17,7 milhões de admissões, contra 19,3 milhões de desligamentos, sendo que a maior diferença entre admitidos e desligados ocorreu na Indústria de Transformação, com perda de mais de 600 mil postos de trabalho.
sar do moderado crescimento econômico em 2014 fechou o ano com o desemprego em 4,8%, segundo a metodologia usada pelo IBGE. A taxa de trabalhadores com carteira assinada chegou a 77,7% no quarto trimestre de 2014, aumento de 0,6 ponto percentual em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mas o número de vagas criadas em 2014 foi de 397 mil, contra uma previsão de 1 milhão. De qualquer modo, o total da criação de vagas nos últimos quatro anos foi de 5,27 milhões.
O rendimento médio do pessoal ocupado cresceu 2,7%, chegando a R$ 2.101. O perfil atual da demografia brasileira, com menos pessoas procurando emprego, a carência de mão de obra especializada para a Indústria e o Setor de Serviços trabalhando sem concorrência internacional, com preços mais livres, justificariam este “paradoxo” de números positivos no Mercado de Trabalho, com a Economia quase parando. A menor procura por trabalho também se justificaria porque a renda familiar aumentou, o que tem permitido mais tempo nas escolas para alguns de seus membros, com o consequente adiamento da entrada no Mercado.
3 MERCADO DE TRABALHO |
2010 |
2.011 |
2.012 |
2013 |
2014 |
2015 |
31 Taxa de desemprego (% médio do ano) |
6,74 |
5,98 |
5,50 |
5,39 |
4,80 |
6,8 |
3.2 massa salarial indústria SP (jan 2006=100) |
113,08 |
115,35 |
116,98 |
120,81 |
116,50 |
112,35 |
3.3 Salário real médio indústria SP (jan 2006=100) |
105,78 |
108,05 |
106,36 |
109,75 |
107,01 |
106,72 |
3.4 Salário mínimo em dólares |
289,77 |
326,35 |
318,97 |
313,89 |
308,09 |
235.93 |
O Salário Mínimo continuou a crescer acima da inflação e, desde o início da política de sua valorização, após 2002, seu valor, se medido em dólares, quintuplicou, mesmo tendo havido ligeira queda de 2013 para 2014: de 314,24 para 308,09. Em vista disto, tem cumprido papel importante na distribuição de renda do País: estima-se que 40 milhões de brasileiros recebam 1 Salário Mínimo por mês, através de seu próprio trabalho ou do sistema previdenciário e de assistência social.
O cenário para 2015, todavia, apresenta números menos animadores: o desemprego chegou a 8,3% no segundo trimestre do ano e o salário real e a própria massa salarial sofrerão quedas significativas.
4-INFLAÇÃO E CARGA TRIBUTÁRIA
A Inflação foi de 6,41% em 2014 e ficará entre 8 e 9% em 2015. De olho nas eleições o Governo controlou a taxa de modo que não ultrapassasse o limite de 6,5%: fez isto através dos juros do Banco Central e de medidas de represamento de preços controláveis, tipo gasolina, preços de passagens urbanas e energia. Mas, para 2015, o Governo acha que ainda conta com outros instrumentos para cumprir a meta, apertando os cintos do consumidor através das medidas do Banco central, mas não o cumprirá.
4 INFLAÇÃO E CARGA TRIBUTÁRIA |
2010 |
2.011 |
2.012 |
2013 |
2014 |
2015 |
4.1 Inflação (IPCA do IBGE) |
5,91 |
6,50 |
5,84 |
5,91 |
6,41 |
10,67 |
4.2 Dívida interna (milhões de reais) |
1603,94 |
1.783,06 |
1.916,70 |
2.028,13 |
2.295,00 |
2504,00 |
4.3 Taxa de juros SELIC (%) |
10,66 |
11,66 |
8,53 |
8,17 |
10,86 |
13,37 |
4.4 Carga tributária (% sobre o PIB) |
33,5 |
35,30 |
35,90 |
35,90 |
35,42 |
35,42 |
A Política Fiscal voltou a ficar em destaque durante o ano de 2014, com os olhos dos analistas voltados para a meta de superavit primário, que acabou não sendo atingida, e, que resultou num deficit primário de 17,2 bilhões de reais. Ou seja, a dívida aumentou, passando a 2,296 trilhões de reais, dos quais 2,184 negociados em reais e 112,3 negociados em moeda estrangeira. O fato de estar indexada em menos de 5% a moedas estrangeiras é um fator positivo para a condução da política cambial do País. Outro fator positivo é a continuação do alongamento do prazo médio de vencimento da dívida, que passou de 4,18 para 4,42 anos. O problema desta dívida não é a chance de o Governo não ter dinheiro para pagá-la, mas sim os altos juros que terão que ser pagos pelo Governo: no Orçamento de 2015 está previsto, para amortização do principal e pagamento de juros o valor de 1,356 trilhões de reais.
A carga tributária em 2014 foi de 35,42, e para 2015 não deverá ser diferente, mas com a ameaça do retorno da CPMF. O Governo terá dificuldade para cumprir a meta fiscal deste ano e o esforço decorrente desta dificuldade prejudicará a melhoria do Produto.
5–RENDA NACIONAL
5-RENDA NACIONAL |
2010 |
2.011 |
2.012 |
2.013 |
2.014 |
2015 |
5.1 Produto Interno Bruto – PIB (em US$ bi) |
1.914 |
2.206 |
2.461 |
2.514 |
2.375 |
2.047 |
5.2 PIB per capita (em US$) |
9.810 |
11.210 |
12.390 |
12.550 |
11.760 |
9.850 |
5.3 Desigualdade na distribuição de renda (Gini) |
0,537* |
0,531 |
0,530 |
0,527 |
0,518 |
0,518 |
5.4 Taxa de investimento (% PIB) |
20,6 |
20,6 |
18,1 |
18,2 |
19,70 |
18,2 |
5.5 Crescimento real do País (%) |
7,6 |
3,9 |
1,8 |
2,7 |
0,1 |
5,0 |
O PIB brasileiro teve crescimento discreto em 2014, de 0,1%, mas a perspectiva para 2015 é que ele decresça mais de 4%, com queda na Indústria e no Setor de Serviços e ligeira alta apenas no Setor Agropecuário. Como tem havido desvalorização do Real em 2015, o Produto Interno Bruto do País deve ter uma forte queda em dólares, perdendo o sétimo lugar no ranking do FMI para a Índia, mas ainda ficando a frente da Rússia e Itália, países que seguiam mais de perto o Brasil, mas que também não tiveram bom desempenho em 2015, um ano muito difícil para a maioria dos países.
A participação dos três setores da Economia – Indústria, Serviços e Agropecuária – tem se mantido estável nos últimos anos, com pequena variação negativa na Indústria como um todo, embora a queda tenha sido significativa na Indústria de Transformação, que é a maior e mais importante. A queda do peso da Indústria na Economia é uma tendência mundial, com o Setor de Serviços ocupando muitos dos espaços que antes eram computados pela Indústria. Outros motivos, mais reais nos países mais desenvolvidos, seriam o desenvolvimento tecnológico, que torna o produto da Indústria mais barato, e por outro lado, a sofisticação da prestação de serviços, mais cara, que muitas vezes acaba substituindo indiretamente o produto industrial. A Indústria brasileira debita a sua queda a outros motivos, como a infraestrutura deficiente, a questão tributária, o câmbio, os juros, a burocracia dos governos e a confiança no Governo. O valor anunciado para o PIB 2014 é de R$5,52 trilhões, ou cerca de 2.35 trilhões em dólares.. Em 2013 o Brasil estava em sétimo lugar no ranking mundial, atrás dos EUA, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido, este último composto por quatro países (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), Imediatamente atrás estavam Itália e Rússia, que deverão continuar atrás, e Índia, que teve alto crescimento em 2014 e pode ultrapassar o Brasil. Medido pelo poder paritário de compra (PPP, em inglês), o PIB brasileiro já não apresenta aquela grande diferença a seu favor que apresentava antes. Na escala mundial, por exemplo, o Brasil ultrapassaria a França e o Reino Unido, mas seria ultrapassado pela Russia e pela Índia. O PIB per capita brasileiro passou a US$ 11.586. Este valor, em Reais, apresentou uma queda real de 0,7% e, embora tenha crescido muito nos últimos vinte anos (em 1994 era de US$ 3.492) ainda é muito baixo na escala mundial, ficando perto do quadragésimo lugar.
A taxa de investimento no Brasil continua muito baixa. Estima-se que para manter um desenvolvimento robusto e sustentável, ela deveria situar-se em torno de 25%, mas neste período analisado, de 1994 a 2014, a média anual esteve próxima de somente 18%.
Uma Resposta a A ECONOMIA EM 2015