Brasil em 2012 (outubro)
(artigo de 12/10/2012)
Nesta análise fazemos uma previsão da performance dos dados econômicos do Brasil para o final de 2012. Conforme se esperava, o ano atual está sendo a continuação de 2011, mas com um viés negativo na velocidade de crescimento. Em 2011 o País cresceu 2,7%, e, em 2012, o primeiro semestre cresceu somente 0,6%; embora já tenha havido uma pequena reação em julho e agosto, a previsão mais comum é que este percentual de crescimento não ultrapasse 1,5% ao final do ano. Esta reação tardia seria finalmente o primeiro sinal concreto das medidas que vem sendo tomadas pelo Governo desde agosto/2011.
Ao reduzir em outubro a taxa de juros para 7,25%, o Banco Central parece priorizar o desenvolvimento, e o mercado discute se as metas de inflação também estão sendo flexibilizadas, como o foram o déficit fiscal e o próprio câmbio. O Governo está preocupado com o baixo crescimento econômico nos dois primeiros anos do atual mandato e, além das citadas flexibilizações, outras medidas vem sendo tomadas para desonerar a Economia e tornar mais competitivas nossas empresas, principalmente na área industrial.
Ultimamente o FMI tem feito advertências a respeito das consequências da crise sobre os países emergentes, com reflexos diretos na retomada do crescimento econômico mundial. A crise europeia já teria passado o seu pior momento, quando se pensou na saída da Grécia ou mesmo na dissolução do Mercado Comum. O grande susto passou, mas agora, por outro lado, sabe-se que a recuperação será longa e lenta, mesmo com certos bons ventos que começam a soprar nos Estados Unidos, que parecem ter superado a fase crítica da crise, e a perspectiva é que cresçam entre 2 e 3% em 2012. A China e a Índia arrefeceram o crescimento econômico, embora continuem, principalmente a primeira, a desempenhar papel significativo no comércio internacional. E aqui na América do Sul, a Argentina, nossa terceira parceira no comércio internacional, continua difícil de se entender e de se prever.
O mercado interno brasileiro continua forte, embora parte da população tenha esgotado sua capacidade de endividamento e o crédito já não seja tão abundante. Mas a renda e o emprego continuam consistentes.
1-RELAÇÕES COM O EXTERIOR
Até setembro, o Brasil exportou 180,6 bilhões de dólares, um resultado 4,9% inferior ao ano passado. Não é um mau resultado diante da crise mundial e o País ainda pode alcançar a meta de exportar 264 bilhões este ano. O que tem tornado mais difícil a obtenção desta meta é a relação de troca desfavorável ao Brasil no que se refere aos preços dos produtos comercializados: nossos produtos de exportação estão mais baratos e, os de importação, mais caros. O produto manufaturado tem participação de cerca de 50% naquele total exportado, com destaque para as exportações para os Estados Unidos; nossos parceiros comerciais mais importantes continuam a ser a China, os Estados Unidos e a Argentina. Nos últimos dez anos nossas exportações tiveram um desempenho invejável, passando de 60,4 bilhões de dólares em 2002 para 256 bilhões em 2011.
A dívida externa brasileira deixou de ser problema quando as reservas cambiais a ultrapassaram; todos os seus indicadores – em relação às exportações, ao PIB, aos juros que paga – lhes são favoráveis, e a ação do Tesouro, para amortizá-la ou não, mais depende do interesse financeiro do Governo. O investimento estrangeiro líquido, de 43,1 bilhões de dólares até agosto, cobre nosso déficit em transações correntes, de 31,6 bilhões.
A crise internacional elevou o dólar para R$2,00, admitido como piso pelo Banco Central e de muito gosto para a Indústria. A desvalorização do Real só não é mais incentivada porque favorece o retorno da inflação e porque prejudica as instituições cujas dívidas são atreladas à moeda americana.
2- DADOS DE PRODUÇÃO
De janeiro a agosto de 2012 a Indústria apresentou um resultado negativo de -3,4%, mesmo com a ligeira recuperação em agosto, de 1,5%. Nos próximos meses a Indústria continuará com desempenho positivo mensalmente, embora não suficiente para reverter o quadro negativo do primeiro semestre. Os industriais tem reclamado muito do chamado custo Brasil, e o Governo tenta contornar suas dificuldades com medidas pontuais na tributação e afrouxamento no câmbio, mas sua dificuldade de aumentar os investimentos, principalmente na infraestrutura, faz a Indústria perder competitividade. A Indústria também começa a ter dificuldade de recrutar mã-de-obra de nível mais qualificado.
No agronegócio, o destaque é aumento da safra de grãos em 2,2%, com o milho ultrapassando a soja, e a consolidação do Brasil como grande produtor e exportador de carnes no cenário mundial. Na pecuária, a produção bovina retornou ao patamar da produção anterior à crise de 2008, mas a produção de frango reduziu-se em 5,5% no segundo trimestre.
O Setor Siderúrgico não deve crescer mais de 1%, em vista do desempenho da Economia Brasileira, das importações e do excesso de oferta.
Mesmo tendo se recuperado suavemente nos últimos três meses, a indústria de produção de bens de capital, no acumulado do ano, ainda está muito inferior ao ano passado: mau sinal para a economia brasileira.
Neste ano deverá haver um aumento de cerca de 3% no consumo de energia elétrica. O Governo anunciou um corte nos encargos que oneram o preço da energia para o consumidor, um dos mais altos do mundo, embora seu custo de produção seja um dos mais baixos. Nas residências o custo deve se reduzir em 16,2%, no comércio em 20% e na indústria em cerca de até 28%.
3- MERCADO DE TRABALHO
O mercado de trabalho brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, em vários sentidos. O nível exigido de qualificação profissional tem aumentado o suficiente para despertar preocupações tanto na área de formação mão de obra qualificada, quanto no que pode acontecer no mercado de trabalho brasileiro com a atração cada vez maior de profissionais de nível mais elevado de outros países. Os brasileiros, por seu turno, tem ido menos para o trabalho no Exterior, em face não só do emprego mais disponível por aqui, como também pela melhoria dos níveis de remuneração. Se por um lado o Governo comemora o aumento do número de empregados com carteira assinada, por outro ele começa um programa de desoneração do trabalho formal, reduzindo os custos empresariais e aumentando a competitividade das empresas.
Muito ainda há o que fazer, pois ainda é intenso o trabalho informal e sem proteção. Embora melhor, a remuneração é desigual a ponto de 73% dos trabalhadores brasileiros ganharem até 3 salários mínimos.
Dentro da crise mundial e da demora do País em se recuperar, o mercado de trabalho brasileiro tem apresentado, surpreendentemente, bons resultados em várias medições.. O fortalecimento da renda e do emprego é a esperança do Governo para acelerar a Economia e continuar com um vigoroso mercado interno. O desemprego bateu 5,3% em agosto e a massa salarial, após um início de ano fraco, cresceu consideravelmente e, pelo menos, deverá empatar com 2011.
4 – INFLAÇÃO E CARGA TRIUTÁRIA
O Banco Central reduziu a taxa de juros SELIC para 7,25% ao ano e atingiu a taxa mínima histórica de 7,25%: poucos no mercado acreditavam que isto iria acontecer e, por esta razão, passou-se a entender que o Governo, agora, prioriza mais fortemente o crescimento econômico no lugar da luta contra a inflação. Aparentemente a inflação não estava tanto sob controle, mas o Banco Central mais uma vez apostou, agora para ajudar na reversão da desaceleração da Economia. Segundo o Banco Central, esta é a taxa que prevalecerá em 2013 para cumprir a respectiva meta do ano. O mercado prevê uma taxa de 5,43% para a inflação no final deste ano de 2012.
A dívida interna em agosto deste ano encontra-se no mesmo nível de 2011, não devendo sofrer grande variação até o final do ano. O Governo trabalha no alongamento da dívida, hoje 3,6 anos em média, e na determinação dos títulos a que ela deve ficar vinculada: as diretrizes do Plano Anual de Financiamento (PAF) recomendam que os títulos remunerados pelas taxas de juros flutuantes devam ser substituídos por títulos pré-fixados ou vinculados à inflação.
Em 2012 o Brasil recolherá cerca de R$1,55 trilhão em impostos, com uma queda real de 2% em relação ao ano anterior, mas continua líder de tributação entre os BRIC e os países da América Latina.
Veja o quadro na página seguinte:
5-MOBILIDADE SOCIAL ( percentual por classe)
Estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que 52,1 milhões de brasileiros entrarão na classe média no período que vai de 2003 a 2014. E que 15,7 entrarão nas classes A e B. Apenas no período dos 12 meses terminados em jan/2012 a pobreza caiu 7,9%! Estes resultados foram projetados considerando a situação de cada estado brasileiro desde 2003.
Neste estudo, os valores para as classes de renda, a preços de julho de 2011, são os seguintes:
- Classe E, de zero a R$1.085,00
- Classe D, de R$1.086,00 a R$1.734,00
- Classe C, de R$1.735,00 a R$7.475,00
- Classe B, de R$7.476,00 a R$9.745,00
- Classe A, acima de R$9.745,00
Os dados de mobilidade social apresentados neste estudo, e que referendam estudos anteriores da própria FGV, tem significado espantoso se considerarmos toda a crise que vem acometendo o mundo desde2007/2008. Como diz o próprio estudo, o nº de pessoas que ascendeu às classes C, B e A no Brasil é superior à toda população do Reino Unido.
6- RENDA NACIONAL
O crescimento do Brasil em 2012 foi atingido diretamente pela crise internacional. O Governo, desde agosto de 2011, vem tomando medidas específicas para acelerar a atividade econômica, sem sucesso: a atividade industrial não responde aos estímulos que recebe, reclamando da competitividade perdida dentro e fora do País e cansada de acusar o “custo Brasil”, mesmo que agora atenuado pela desvalorização do Real.
O consumo interno também parece dar sinais de esgotamento; o crédito pode ser farto, mas não é tão barato. Teria se esgotado o potencial de endividamento das famílias, mostrado pelo aumento dos índices de inadimplência.
O Investimento seria a saída para a retomada do crescimento, mas o Governo não é ágil suficiente para driblar suas próprias entranhas, que o impede de tirar da gaveta projetos prontos e aprovados, e de sacar do Orçamento dinheiros fartos e disponíveis. O diálogo com a iniciativa privada para gerar investimento conjunto não é fácil. Desse modo, fica difícil o País alcançar a taxa de investimento de 25% do PIB, considerada como necessária para o País manter um crescimento sustentável de 4 a 5%. No segundo trimestre deste ano a taxa de investimento foi de 17,9%.
Neste ano o Brasil parece marchar para um crescimento da ordem de 1,5%, como atestam as previsões que não param de ser revistas para baixo.
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